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Livros à Solta

As Bibliotecas Escolares deram continuidade ao projeto “Livros à solta”, assinalando, também desta forma, o Mês Internacional das Bibliotecas Escolares.

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Roda do conto “Palavra puxa palavra”

Numa escura e fria noite de lua cheia, Jennifer, Roger e o seu cavalo Juan voltavam a casa após um longo passeio pela floresta. De repente, avistaram uma luz ao longe e decidiram aproximar-se para ver o que era. Repararam que provinha de um estábulo que parecia abandonado e, não resistindo à tentação de o observar melhor, lá entraram. Quando entraram, não conseguiam acreditar no que os seus próprios olhos viram: três grandes vultos que pareciam estar armados.

Jennifer e Roger, cara a cara com o perigo iminente, tentaram recuar, mas logo se aperceberam de que não havia escapatória, uma vez que Juan tinha fugido, assustado com o barulho do assalto.

Na manhã seguinte, ao acordarem amordaçados, embalados pelo som das ondas, ao tentarem reconstruir a noite anterior, aperceberam-se de que a sua última memória eram aqueles rostos tenebrosos.

Perdidos no desconhecido, com o coração a palpitar, Jennifer e Roger trocaram intensos olhares apavorados, sem saber como agir perante a situação com que se deparavam. Um sentimento de impotência dominava o mais profundo das suas almas. Como sair daquela embrulhada, se nem sequer tinham a mais ínfima ideia de onde se encontravam e do paradeiro do seu fiel Juan?

Naquele momento, a angústia paralisou-os…mas nada mais lhes restava a fazer a não ser observar o estranho local em que se encontravam: à frente deles e pregada à parede, encontrava-se uma cruz em madeira carcomida virada ao contrário; o teto estava rasgado num grande vitral partido por onde entrava a claridade; atrás de um altar improvisado, umas velas ardiam; no chão, podia-se vislumbrar vestígios de um pentagrama pintado com linhas vermelhas e pretas. Um cheiro a cera queimada pairava no ar.

Um calafrio perpassou-lhes a alma. Seria isto tudo um sonho?

Rapidamente caíram em si ao repararem que duas fotografias estavam sobrepostas ao pentagrama. O Roger aproximou-se das fotos e qual não é o seu espanto quando percebe que se tratava do seu retrato e do de Jennifer. Não há dúvida…não estavam ali por acaso. Afinal aquela luz no estábulo havia sido um engodo.

O raciocínio de Roger foi interrompido quando uma voz sinistra ecoou dentro da sala trazendo uma rajada de vento que apagou as cinco velas. 

Roger e Jennifer deparavam-se numa difícil situação, não sabendo como aguentar o pânico. Roger estava ansioso, mas tentava aguentar o pânico acalmando-se e tentando entender a situação. Jennifer por si, não queria acreditar na situação em que se encontrava…O medo tinha tomado conta de si e a voz sinistra meramente piorou. Roger compreendeu que teria de pensar por si para sair daquele estábulo apavorante. Mal ele sabia do que o esperava…

Quando finalmente saíram do estábulo ouviram uns lobos ao longe, e, por isso, seguiram o caminho contrário. Mais tarde, encontraram o seu cavalo Juan, perto da casa abandonada de um velho mendigo. Ao aproximarem-se do cavalo, o velho mendigo questionou de onde Roger e Jennifer vinham. Assustados contaram o que sucedeu no caminho para casa. O velho mendigo com ar de preocupado convidou-os a entrar na casa abandonada para conhecerem o passado do estábulo, que era bem pior do que eles imaginavam…

Aquele estábulo era o que restava de uma antiga casa que pertencera a uma família muito rica daquela região. À família pertenciam grandes domínios de terra onde trabalhavam muitos escravos. O patriarca da família era um homem muito cruel que frequentemente mandava castigar os seus criados e escravos, a ponto de eles não resistirem aos ferimentos causados. Dizem os habitantes da região que, em certas noites, ainda se ouvem os gritos dos homens torturados, pelo que se acredita que os seus espíritos ainda lá permaneçam. Era a família Frazer. Aos ouvirem esse nome, os dois jovens ficaram perplexos…Tratava-se dos seus antepassados!

Ao analisarem o estábulo encontraram um pequeno envelope e abriram-no, deparando-se com uma folha amarelada e manchada de sangue que dizia o seguinte “Sou descendente de escravos torturados e procuro vingança para com a família Frazer.” Entreolharam-se receosos pelo futuro. Decidiram sair daquele sítio amaldiçoado e ao afastarem-se avistaram um cenário ainda pior: o seu cavalo Juan estava caído inanimado, envolto numa poça de sangue. Junto do seu corpo o seguinte aviso” Um de três já foi, faltam dois! Quem será a próxima vítima?”

Cada vez mais assustados e mudos pelo choque, os dois primos entraram novamente no estábulo. Ainda a tremer, Jennifer sentou-se numa trave de madeira que por ali se encontrava, enquanto Roger não parava de andar à volta do pentagrama inscrito no chão. Para afastar a imagem do pobre cavalo, Jennifer desdobrou a carta ameaçadora que, sem se aperceber, tinha guardado no bolso. Foi então que reconheceu a imagem timbrada no papel, já a tinha visto nos documentos do seu bisavô que Roger lhe havia mostrado. Um calafrio percorreu Jennifer: estaria Roger envolvido nestas ameaças? A rapariga não queria acreditar, mas decidiu confrontá-lo. Não sabia como começar… 

Respirou fundo para ganhar coragem, mas, quando procurou, Roger já não estava lá. Subitamente uma voz áspera surge na sua cabeça dizendo: 

– Acorda, Jennifer!

Com isto, Jennifer acorda da sua ilusão e apercebe-se de que nada do que acontecera fora real; ao olhar para o lado depara-se com a campa de Roger e sente um calafrio. Ele havia falecido há vários anos, mas Jennifer, devido ao seu transtorno de múltipla personalidade, nem sempre se lembrava de tudo. Na verdade, podia ter sido uma das suas outras três personalidades, porque cada uma vivia a sua própria vida. Quatro pessoas num corpo só. Cada uma delas era diferente e com nomes diferentes, como o Kleber, que era arrogante, racista e não passava confiança a ninguém; Temari, que se achava superior aos outros; Valter, que era um génio intelectual com conspirações satânicas e, por fim, Jennifer. 

É óbvio que Jennifer não tinha conhecimento da sua doença e mal sabia ela que tinha sido a sua personalidade Kleber a matar Roger.